Mineira Ana Carolina é a 3ª no ranking Mundial do taekwondo paralímpico e acumula medalhas

Matéria do Jornal Hoje em Dia.

Angel Drumond

angel.lima@hojeemdia.com.br

Publicado em 27/02/2023 às 10:03.

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“É importante ter acompanhamento especializado em várias áreas. Procurei por profissionais específicos. Fisioterapeuta, massoterapeuta, preparador físico, personal, técnico, nutricionista, instrutor de pilates, médico com experiência em esportes” (Arquivo pessoal)

“É importante ter acompanhamento especializado em várias áreas. Procurei por profissionais específicos. Fisioterapeuta, massoterapeuta, preparador físico, personal, técnico, nutricionista, instrutor de pilates, médico com experiência em esportes” (Arquivo pessoal)

Ana Carolina Moura usou o esporte como instrumento poderoso de transformação na própria vida. A deficiência física no braço direito não impediu que ela se tornasse uma atleta profissional do taekwondo paralímpico e dona de grandes resultados. 

Terceira no ranking Mundial, a belo-horizontina de nascença e contagense de coração, de 27 anos, é tricampeã brasileira, bronze no Mundial na Turquia, ouro no Grand Prix em Paris, ouro no Pan Series em São Paulo, bronze no Grand Prix em Manchester e ouro no Grand Prix Final em Riyadh.

De olho nas Paralimpíadas de 2024 em Paris, Carol, como gosta de ser chamada, enfrenta uma rotina pesada de treinos diários e de muita superação. Ao Hoje em Dia, a consagrada atleta falou sobre como tudo começou e as adversidades que enfrentou para alcançar o sucesso profissional na carreira.

  • Como você se interessou por uma luta marcial? E como o Taekwondo apareceu na sua vida profissional de atleta?
    • Comecei a fazer taekwondo com intuito de me defender. Fui assaltada no Centro da cidade e levaram um cordão que minha tia deu para todas as sobrinhas quando nasceram. Fiquei com tanta raiva que na mesma semana procurei um lugar para começar a fazer alguma arte marcial. Sempre quis fazer, e essa situação se tornou um combustível. Fui a uma academia próxima à minha casa procurando por karatê, mas não tinha essa modalidade. Só tinha taekwondo, então eu aceitei fazer uma aula experimental. Comecei a treinar com o mestre Rodrigo Cartele, mais conhecido como mestre Pulga. Com ele comecei a gostar da modalidade. Porém em três meses de treino por hobby, tive uma lesão ligamentar significativa. Fiquei fora do tatame por um ano e assim que tive liberação médica, retornei.

  • Sua primeira opção para a prática esportiva foi alguma luta marcial ou você tentou outros esportes?
    • Esporte sempre fez parte da minha vida. Inclusive era uma recomendação médica. Quando nasci, todos da minha família levaram um susto. Mesmo minha mãe tendo feito todo o pré-natal, não avisaram que eu nasceria sem o antebraço. Minha mãe surtou ao ouvir “a Ana Carolina nasceu, ela está bem, mas…. Não tem o antebraço”. Minha mãe, dona Eunice, fala que naquela hora ela já não sabia o que era antebraço e sua preocupação não a permitia pensar. Então quando fui na minha consulta com o pediatra, foi recomendado que eu fizesse natação. Comecei com a natação, depois me envolvi com a dança, evolui para a ginástica rítmica, migrei para futebol, brinquei de jogar handebol na escola e agora tento levar a melhor com chutes e steps no taekwondo. A única modalidade que me envolvi competitivamente e que hoje tomou uma proporção que eu nunca imaginei.
    • Comecei a fazer taekwondo com intuito de me defender. Fui assaltada e levaram um cordão que minha tia deu para todas as sobrinhas quando nasceram. Fiquei com tanta raiva que na mesma semana procurei um lugar para começar a fazer alguma arte marcial.

  • Como está o calendário deste ano no taekwondo paralímpico?
    • O calendário de 2023 está apertado, e é extremamente importante para classificação e ranqueamento para as Paralimpíadas de 2024 em Paris. Se fosse destacar as competições mais importantes do ano, destacaria o Mundial e os Jogos Para-pan americanos que acontecerão em Santiago, no Chile.

  • Todo atleta tem um início complicado de carreira profissional no esporte, com a Ana Carolina Moura também foi assim?
    • O caminho até aqui não foi fácil. Hoje, sendo a terceira no ranking mundial, lembro da minha primeira competição internacional, e o quanto eu estava insegura. A experiência e a preparação andam lado a lado e isso impacta nos resultados. Quantas vezes olhei para trás e questionei se aquele era realmente o melhor que eu poderia ter tido, e aleatoriamente me deparei com uma frase do Paulo Muzy: “Agir o melhor possível com a ferramenta que você tem”. Naquela época, aquele era o meu melhor resultado! Hoje, já não é, porque eu evoluí tecnicamente, mentalmente e fisicamente.

  • Para ter essa evolução, a atleta Ana Carolina buscou alguma ajuda especial de profissionais? E como a família ajudou nessa caminhada?
    • Nesse ponto, cheguei à conclusão da importância de ter acompanhamento especializado em várias áreas. Procurei por profissionais específicos. Fisioterapeuta, massoterapeuta, preparador físico, personal, técnico, nutricionista, instrutor de pilates, médico com experiência em esportes. Além de todos esses profissionais, foi importante contar com uma rede de apoio familiar. Uma estrutura para quando a pressão apertar, te lembrar de cada conquista e obstáculo que você alcançou até aquele momento. Lembrar de cada pessoa que está contribuindo ativamente com esse objetivo e que o esforço está sendo recompensado com competição após competição.

  • Qual a importância do seu atual técnico na sua carreira? Além de treinador ele é seu principal motivador?
    • Hoje, treinando com o mestre Edilson de Paula, percebo o quanto esse acompanhamento diário é importante. A constância construiu nosso primeiro resultado juntos em setembro no Grand Prix de Paris. Frases como “olha essa postura”, “esse step está horrível”, “você pode fazer melhor”, “quem é a mais forte da categoria?” foram minhas companheiras por dois meses, sem mencionar as outras tantas, que corrigiam os detalhes para uma boa performance e isso construiu a minha confiança. Saber que os detalhes estavam encaixados, que percebemos os erros anteriores e tentamos nosso máximo para diminuí-los. Não sou louca em dizer que acabamos com todos eles, mas reduzimos significativamente. Ainda falo com meu técnico, “poxa, viu como eu ainda estou fazendo o tum tum tum na luta?” e ele me entende.

E o que o taekwondo paralímpico tem proporcionado na sua vida?
Acho que poderia falar sobre luta, sobre esporte, sobre experiências que as competições me proporcionam, sobre minha admiração pela adversárias, sobre inspirar pessoas a serem melhores, sobre aprender a perder, sobre diversas coisas que esse mundo me possibilitou ver e viver por horas. Não é um pequeno assunto, está sendo o início de grandes resultados! Assim espero.

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